sábado, 22 de novembro de 2014

O que é a Crítica Textual bíblica? / What is the Biblical Textual Criticism?

                           
                                                         





   A Crítica Textual é a disciplina que se ocupa em restaurar o texto original de um determinado manuscrito antigo.
Esse método de restauração é aplicado ao Novo Testamento para ajudar no processo de tradução uma vez que não temos os autógrafos (originais) e sim cópias das cópias desses, que geraram um bom número de divergências em alguns pontos nos mais de 5 mil manuscritos relacionados à Bíblia conhecidas como Variantes Textuais.
No Antigo Testamento temos um número bem inferior ao NT, pois os escribas ou copistas massoretas foram mais caprichosos em seus trabalhos de transmissão textual.
As variantes textuais no Novo Testamento aparecem quando copistas fazem intencionalmente ou acidentalmente mudanças de um texto quando são reproduzidos. O teólogo alemão Eberhard Nestle (1815—1913), conhecido pela edição Nestle-Aland do Novum Testamentum Graece, estimulou que existem cerca de 150.000 - 200.000 variantes no texto do Novo Testamento.
Bart D. Ehrman (1955—), um acadêmico minimalista bíblico norte-americano, afirma que existem até 400.000 variantes.  O biblicista conservador Jack Moorman, por outro lado, pondera que dos cerca de 5 mil manuscritos existentes hoje, 99% deles concordam em mais de 99% entre si. Uma das maiores autoridades em grego neotestamentário, Bruce Manning Metzger, ex- professor emérito do Princeton Theological Seminary (Antigo Professor de Bart D. Ehrman), afirma que as diferenças não afetam substancialmente nenhuma doutrina cristã. Norman Geisler e Willian Nix acrescentam: “O Novo Testamento, então, não apenas sobreviveu em maior número de manuscritos que qualquer outro livro da antiguidade, mas sobreviveu em forma mais pura que qualquer outro grande livro – uma forma 99,5% pura”.

                                                       Variantes Acidentais

As alterações acidentais ou involuntárias compreendem todas as modificações não intencionais provocadas no texto. Dentre elas podem ser destacadas:
·         Equívocos visuais eram ocasionados pela semelhança entre algumas letras do alfabeto grego, mas também pela escrita contínua da época. Podiam surgir quando copistas sofriam astigmatismo ou miopia. O erro visual, denominado parablepse (olhar para o lado), ocorria geralmente quando duas linhas consecutivas apresentavam palavras iguais ou semelhantes no final delas ( homeoteleuto) ou  no início (homeoarcton), levando os copistas a saltar uma linha fazendo com que aquele texto fosse omitido.



·         Equívocos auditivos, conhecidos como (iotacismo), ocorriam quando havia a mesma pronúncia grega para vogais ou ditongos diferentes (algumas vezes os textos eram ditados para os copistas).
·         Falhas mentais como a ditografia (copiar letras ou sílabas por duas vezes) e a haplografia (omissão de uma ou mais letras).  


                                                    Variantes Intencionais


·         As alterações intencionais compreendem todas aquelas que os copistas efetuaram conscientemente nos textos. Como por exemplo, citamos as seguintes:

·         Harmonizações: Ocorrem, sobretudo, entre os textos dos evangelhos sinóticos. Quando as diferenças entre os textos dos evangelhos não eram consideráveis, costumava-se harmonizar os seus conteúdos.
·         Correções de ortografia, gramática ou estilo.
·         Correções explicativas ou doutrinárias.
·         Acréscimos com complementos naturais e interpolações de notas marginais.
·         Correções geográficas e históricas.

                                             Exemplo de alteração acidental

Quando lemos o texto de Ap 22:14 nos códices Sinaítico e Alexandrino, há a seguinte expressão grega:

Μακάριοι οἱ πλύνοντες τὰς στολὰς αὐτῶν
 (Bem-aventurados os que lavam as suas vestiduras).

                                                                           Sinaítico



                                                                         Alexandrino


 
O termo em destaque é o vocábulo (stolas) que significa vestes ou vestiduras.
Porém há versões como a Siríaca, Copta, Textus Receptus como nos escritos de Cipriano, que aparece o vocábulo ἐντολὰς (entolas) que significa mandamento. Vejamos as duas formas:

πλύνοντες τὰς στολὰς αὐτῶν (lavam as suas vestiduras). 

ποιοῦντες τὰς ἐντολὰς αὐτοῦ (guardam os seus mandamentos).

Esse é um dos exemplos da falha acidental, pois o copista confundiu o “S” com “EN” ao ouvir ou ao ler o texto original contribuindo assim para essa Variante Textual.

A Almeida Corrigida Fiel (ACF) preferiu a expressão “guardam os seus mandamentos”.

A Almeida Revista e Atualizada (ARA) como a maioria das versões, preferiu a expressão “lavam as suas vestiduras”. 


Outros exemplos de alteração acidental que ocorreu, foram com os pronomes plurais ἡμεῖς (nós) e ὑμεῖς (vós) pelo fato de no grego as vogais eta, iota e ipsilom, e os ditongos ei, oi e ui terem a mesma pronúncia.



                                  Exemplo de alteração intencional

O texto de 1Jo 5:7- é um dos mais famosos textos intencionais que muitos o denominam como Texto Teológico por ele não ser encontrado nos mais antigos manuscritos e ser entendido como um acréscimo de um copista que cria na doutrina da Trindade. Embora esta leitura, conhecida como ‘parêntese joanino’,  aparece no textus receptus e em traduções mais antigas como KJV  e ARC, ela está ausente de praticamente todos os manuscritos gregos, de todas as versões antigas com exceção da latina, e não aparece em nenhuma citação dos Pais da Igreja. Se esse texto tivesse constado no autógrafo, é muito pouco provável que teria sido omitido, seja de forma acidental, seja de forma deliberada. 

Nós códices mais antigos como o Sinaítico e Vaticano,ambos do século IV, não vemos a expressão (...no céu: o Pai, a Palavra e o Espírito Santo; e estes três são um.) ‘parêntese joanino’, mas apenas a a leitura ὅτι τρεῖς εἰσιν οἱ μαρτυροῦντες, no Vaticano e ὅτι οἱ τρεῖς εἰσιν οἱ μαρτυροῦντες, no Sinaítico, que podem ser traduzidas como  "Pois há três que dão testemunho" (ARA)
                                                                           Sinaítico


Vaticano





Outro exemplo de alteração intencional pode ser encontrado no livro de Hebreus; pois lá, há uma passagem na qual, de acordo com a maioria dos manuscritos, é nos dito que "Cristo sustém [grego: pheron] todas as coisas pela palavra do seu poder" (Hebreus 1,3). Contudo, no Códice Vaticano, o copista original produziu um texto ligeiramente parecido em grego; ali, o texto diz, por sua vez: "Cristo manifesta [grego: phaeneron] todas as coisas pela palavra do seu poder". Alguns séculos mais tarde, um segundo copista leu esta passagem no manuscrito e decidiu mudar a palavra manifesta, um tanto incomum, por uma leitura mais comum, sustem- apagando uma palavra e escrevendo outra. Posteriormente, alguns séculos mais tarde, um terceiro copista leu o manuscrito e se deu conta da alteração que seu predecessor perpetrara. Ele, então, por sua vez, apagou a palavra sustem e reescreveu a palavra manifesta. E depois acrescentou uma nota de copista à margem para indicar o que ele achava do primeiro e do segundo copistas. A nota diz:

  "Insensato e desonesto, deixe o texto antigo, não o altere!.




Orígenes chegou a fazer um comentário acerca da forma como os copistas estavam trabalhando:


“A diferença entre os manuscritos se tornaram gritantes, ou pela negligência de algum copista ou pela audácia perversa de outros; ou eles descuidam de verificar o que transcrevem ou, no processo de verificação, acrescentam ou apagam trechos, como mais lhe agrada” (O que Jesus Disse? O que Jesus não Disse? p. 68).


Infelizmente há céticos que de tudo fazem para tentar anular a confiabilidade do Novo Testamento por causa das insignificantes divergências aqui apresentas. Todavia, eles precisam saber que antes de haver essas variantes, as doutrinas já estavam elaboradas pelos apóstolos inspirados pelo Espírito Santo que podem ser vistas no decorrer das Escrituras como também nos escritos posteriores dos Pais da Igreja que se possível, poderiam montar toda a Bíblia caso não tivéssemos os melhores manuscritos, pois Orígenes citou os versículos da Bíblia aproximadamente 17.922 vezes, Clemente de Alexandria, 2. 406, Ireneu, 1.819 e Justino Martir 387, de um total de 86. 489 citações da patrística.

                                                                                   Itard Víctor Camboim de Lima. 
Bibliografia:
OMANSON, Roger L., Variantes Textuais do Novo Testamento. SBB.
WEGNER. Uwe. Exegese do Novo Testamento. Editora Sinodal.
EHRMAN, Bart D., O que Jesus Disse? O que Jesus não Disse?. Prestígio.



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