quarta-feira, 19 de novembro de 2014

A Regra de Granville-Sharp / The Granville-Sharp Rule



                                                         
Um resumo da tese defendida pelo gramático, crítico textual e pós-doutor em língua grega do Novo Testamento, Daniel B Wallace na obra (UMA SINTAXE EXEGÉTICA DO NOVO TESTAMENTO, p. 270-290).

Esta regra mostra de forma irrefragável por meio da gramática grega que Jesus é Deus.  



Introdução
Em grego, quando dois nomes conectados com kai, e o artigo precede somente o primeiro nome, haverá uma conexão entre os dois. Essa conexão sempre indica, pelo menos, algum tipo de unidade. Em um nível mais alto, pode conotar igualdade. Em nível elevadíssimo pode indicar identidade.
Quando a construção encontra três exigências específicas, então dois nomes sempre se referem à mesma pessoa. Quando a construção não encontrar esses requerimentos, os nomes podem ou não referirem-se á(s) mesma(s) pessoa(s)/ objeto(s).


Descoberta da “Regra de Granville Sharp”
Granville Sharp,  filho do diácono superior e neto de um arcebismo, foi um filantropo inglês e evolucionista (1735-1813). Ele é conhecido pelos estudantes de história como “ o Abraão Lincoln da Inglaterra”, devido a seu papel-chave na abolição da escravatura. Sem treinamento teológico específico, foi um estudante das Escrituras. Sua forte convicção na Divindade de Cristo o levou a estudar a Bíblia no original a fim de defender mais habilmente essa convicção. Embora tal motivação o transformasse relativamente em bom linguista, capaz de lidar com os textos grego e hebraico. À medida que estudava as Escrituras, no original, notou certo padrão: quando havia uma construção do tipo artigo-substantivo-kai-substantivo (ASKS) envolvendo nomes pessoais singulares e que não eram nomes próprios, esses sempre se referiam à mesma pessoa.


Declaração da Regra
Sharp realmente notou seis regras sobre o uso do artigo, contudo somente a primeira dessas é que ficou conhecida como a Regra de Sharp, por causa de sua importância para os textos que tratam da deidade de Cristo. Consequentemente, “ela possui mais resultados do que as demais...”38  Essa regra declara
Quando a partícula καὶ  conectar dois nomes no mesmo caso, [ou seja, nomes( substantivo, adjetivos ou particípios) de descrição pessoal, referindo-se a ofício, dignidade, afinidade ou conexão, atributos, propriedades, ou qualidade boas ou más], e se o artigo   , ou qualquer uma de suas formas declináveis, preceder o primeiro nome ou particípio, e se não repetir-se antes do segundo nome ou particípio, o último sempre se relacionará à mesma pessoa expressa ou descrita pelo primeiro nome ou particípio. Ou seja, denotará outra descrição ao nome inicialmente citado...39
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38 Sharp, Remarks on the Uses os the Definitive Article, 2.
39 Ibid., 3 (itálicos no original).

Embora Sharp incluísse aqui somente substantivos pessoais singulares, não havia base para se crer que ele pretendia restringir sua regra a isso. No entanto, a leitura de sua monografia revela que poderia aplicá-la, apenas e absolutamente, a nomes pessoais singulares e que não fossem nomes próprios 40

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40 Veja Wallace, “O artigo com Múltiplos Substantivos”, 47-48, para documentação.

Em outras palavras, na construção ASKS ( artigo+ substantivo+kai+ substantivo), o segundo nome 41 refere-se à mesma pessoa mencionada com o primeiro quando:
  
(  1)   não for impessoal;
(  2)   não for plural;
(  3)   não for nomes próprio.42

Portando, de acordo com Sharp, a regra será aplicada só e exclusivamente com nomes pessoais singulares e nomes que não são próprios. A importância desses requerimentos pode ser subestimada caso não se atente para o seguinte princípio: Sharp a aplicou quase, sem exceção, a nomes que detinham essas características.
Mas compreensões derivam-se da não familiarização com restrições classificadas por Sharp.
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41 Por “nome” queremos dizer o que Sharp pretendia: adjetivo substantivado, particípio substantivado ou substantivo.
42 Um nome/substantivo próprio é definido como um nome que não pode ser “transformado” em um plural”- assim não inclui títulos. Um nome de uma pessoa, portanto, é próprio e, consequentemente, não se encaixa na regra. Mas θεὸς não é próprio porque pode ser posto no plural-então, quando θεὸς estiver em uma construção ASKS em que ambos os nomes são singular e pessoal, ele se encaixa na regra de Sharp. Visto que θεοί é possível (cf Jo 10:34), θεὸς não é um nome próprio.

Textos de significância Cristológica
     τοῦ μεγάλου θεοῦ καὶ σωτῆρος ἡμῶν Ἰησοῦ Χριστοῦ, (Tt 2:13)
    do grande Deus e Salvador nosso Jesus Cristo (Interlinear- SBB)

                                            ASKS
Quando a partícula καὶ  conectar dois nomes no mesmo caso e se o artigo   , ou qualquer uma de suas formas declináveis, preceder o primeiro nome ou particípio, e se não repetir-se antes do segundo nome ou particípio, o último sempre se relacionará à mesma pessoa expressa ou descrita pelo primeiro nome ou particípio.
τοῦ (Artigo), θεοῦ (Substantivo), καὶ (Conjunção), σωτῆρος (Substantivo)
    do grande Deus e Salvador nosso Jesus Cristo (Interlinear SBB).

τοῦ θεοῦ ἡμῶν καὶ σωτῆρος Ἰησοῦ Χριστοῦ, (2Pe 1:1)57
do Deus nosso e Salvador Jesus Cristo (Interlinear SBB).
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57 א ψ et pauci têm κυρίου em lugar de θεοῦ.

Alguns do tantos outros versos que se encaixam na regra de Granville-Sharp
τὸν πατέρα μου καὶ πατέρα  (Jo 20:17)
τῶν οἰκτιρμῶν καὶ θεὸς (2Co 1:3 BNT).
τὸν ἀδελφὸν ἡμῶν καὶ συνεργὸν (1Ts 3:2 BNT).
τῆς πίστεως ἀρχηγὸν καὶ τελειωτὴν (Hb 12:2 BNT).
ἀδελφὸς ὑμῶν καὶ συγκοινωνὸς (Ap 1:9 BNT).



Explicação sobre 2Pe 1:1 e 1Ts 1:12

Alguns gramáticos têm objetado: uma vez que ἡμῶν está conectado a θεοῦ, duas pessoas estão sob consideração. O pronome parece “delimitar” o substantivo, isolando efetivamente o que está antes dele. Porém, no v. 11 desse mesmo capítulo (bem como em 2:20 e 3:18), o autor escreve τοῦ κυρίου ἡμῶν καὶ σωτῆρος Ἰησοῦ Χριστοῦ, uma expressão que se refere a uma pessoa, Jesus Cristo: “Por que recusar-se em aplicar a mesma regra a 2Pd 1:1, o que todos admitem...ser verdade em 2Pd 1:1 [sem mencionar 2:20 e 3:18]? Além do que, mais da metade dos textos no NT que se encaixam na regra de Sharp envolve alguma palavra entre os dois substantivos. Várias deles tem um pronome possessivo ou outro genitivo modificador. Todavia, em todas essas construções, somente uma pessoa está vista. Nesses exemplos, o termo interventor não efetua nenhuma interrupção na construção. Sendo esse o caso, não existe razão plausível para se rejeitar 2Pd 1:1 como uma afirmação explícita da deidade de Cristo.


2Ts 1:12
É surpreendente que muitos eruditos (alguns notáveis, e.g., R. Bultmann) tenham considerado 2Ts 1:12 como uma afirmação explícita da deidade de Cristo. Só por separar κυρίου  de Ἰησοῦ Χριστοῦ,, poder-se-ia aplicar a regra de Sharp a essa construção. De forma mais significante, Middleton, de quem o Doctrine of the Greek Articule foi a primeira grande obra para sustentar a regra de Sharp, rejeita 2Ts 1:12, afirmando que (1) κυρίου deveria estar desconectado de Ἰησοῦ Χριστοῦ, visto que o todo forma um título comum nas epístolas, participando assim das propriedades de um nome próprio; e (2) Embora os escritores patrísticos gregos empregassem a frase de Tt 2:13 e 2Pe 1:1 sobre numerosas ocasiões para afirmar a deidade de Cristo, ele dificilmente teria notado essa passagem (Douctrine of the Greek Articule, 379-82). Cf. também Matthews, Syntax, 228-29, para argumentos linguísticos modernos relacionados a gradações do aposto (em 2Ts 1:12 muitos exegetas veriam “Senhor Jesus Cristo” como sendo um “aposto fechado”).


                                                                              Itard Víctor Camboim De Lima, 19/11/2014

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