segunda-feira, 6 de novembro de 2017

Seria Júnias uma apóstola?




  
          

            Geralmente entre os servos de Cristo, debates acalorados são feitos por causa do crescimento dos que defendem que não é pecado a consagração ou a ordenação de mulheres para o cargo de Pastor (a). 

Bom, os que são contra à ordenação feminina, normalmente exigem aos seus opositores que eles lhes apresentem um só texto da Bíblia que mostre mulheres no colégio apostólico. Mas, a mesma exigência não deveria ser feita aos que apoiam o envio de mulheres para atuarem no campo missionário em formato integral?  Pois, há pessoas e denominações que  ignoram as pastoras, mas aceitam as missionárias. Bem, retornemos ao objetivo.            

Os que defendem que as mulheres podem também serem pastoras, apresentam como fundamento personagens bíblicos que tiveram funções que normalmente eram executadas pelo sexo masculino, como, por exemplo, Débora (juíza e profetisa - Jz 4:4), e Febe (Rm 16:1), a quem atribuem à função de diaconisa pelo fato da palavra feminina grega διάκονον (diákonon), que vem de διάκονος (diáconos - a mesma de onde origina a usada aos homens 1Tm 3:12), estar ligada à sua função, isto é, à função de serva, conforme traduz a Almeida Revista e Atualizada:

         “Recomendo-vos a nossa irmã Febe, que está servindo à igreja de Cencréia,”. Grifo nosso. 

            Porém, nesse artigo estaremos expondo uma explicação acerca do personagem bíblico Junias ou Junia (Rm 16:7) que alguns pensam ter sido uma apóstola, o que diverge logicamente dos que não veem na Bíblia o apostolado feminino. Vejamos o que o estudioso da Crítica Textual, Roger Omanson diz :

           

"Ίουνίαν   (Júnia)  {A}

         O peso dos manuscritos favorece, em muito, a leitura ‘Ίουνιαν, em detrimento do nome feminino 'Ιουλίαν  (Júlia). No entanto, não se sabe com certeza como esse nome (’Iουνιαν) deve ser acentuado. Antes de ser publicada a terceira impressão da quarta edição do Novo Testamento Grego das Sociedades Bíblicas Unidas, essa palavra aparecia, no texto, acentuada como ‘Ioυviâv (Júnias). Alguns intérpretes, julgando  improvável que uma mulher estaria entre aqueles que são chamados de “apóstolos”,  entendem  que esse nome é ‘Ίουνιαν  (Júnias), tido como uma forma abreviada do nome masculino Juniano6. Por outro lado, há que considerar o seguinte:

(1) O nome latino  “Junia”  (Júnia), atribuído a mulheres, aparece  mais  de 250 vezes em inscrições gregas e latinas que foram encontradas em Roma (sem levar em conta outros lugares), ao  passo que o nome masculino “Júnias” não foi encontrado uma única vez. (2) Quando, nos manuscritos gregos, se começou a acentuar as palavras (pois no início eram escritas sem acentuação), os copistas escreveram, Ιουνίαν (Júnia), ou seja, tomaram esse nome por nome de mulher.  (3) Afirmar que, na Igreja antiga, mulheres não eram consideradas apóstolas é uma hipótese que ainda necessita de comprovação.

 É preciso levar em conta que o grau de certeza “A” se refere unicamente à grafia do nome, e não à forma como é acentuado. As traduções modernas registram tanto “Júnias”  (ARA, RSV, NVI, TEB,  FC, Seg) quanto “Júnia”  (ARC,  NRSV,  NBJ,  CNBB, REB, TEV 2a edição, NTLH,  BN).  Convém notar ainda, que as formas de masculino plural συγγενείς  (parentes)  e συναιχμαλώτους (companheiros  de prisão),  que aparecem  depois  dos  nomes  Ανδρόνικον  e  "Ιοννιαν,  podem  se  referir  a  dois  homens, mas podem se  referir também a um homem e uma mulher. 

Segundo Fitzmyer (Romans, pp. 737-738), “muitos comentaristas antigos, que viveram antes do século doze, entenderam que Iounian ou, então, Ioulian era a mulher de Andrônico”.Dunn (Romans 9 — 16, p.  894) expressa a opinião de muitos intérpretes modernos,  ao dizer: “a maneira mais natural de se ler esses dois  nomes dentro desse texto é pensar que se trata de marido e mulher” (assim,  também, Cranfield,  The Epistle to the Romans, Vol  //, p.  788; e veja a extensa discussão desse  assunto em Epp, Junia: The First Woman Apostle)."
 _______________________
6 Em tempos  recentes,  Michael  H.  Burer  e  Daniel  B.  Wallace  [“Was  Junia  Really  an  Apostle?  A  Reexamination of Rom 16.7”, New Testament Studies 47 (Janeiro de 2001): 76-91 (aqui, p. 90)] defenderam a tese  de que  as  palavras επίσημοι  έν  τοίς  άποστόλοις  “quase com  certeza  significam ‘bem conhecidos dos apóstolos”’, e não “bem conhecidos entre os apóstolos”. Se eles estiverem com a razão, a pergunta se mulheres eram, ou não, designadas de apóstolas na igreja antiga é irrelevante para a discussão do gênero do nome, lovvíav. so).  Júlia era um nome de mulher bastante usado entre os romanos.  No entanto, esse nome pode também  ser visto  como  o  nome de  um  homem,  a  saber,  Júlias  o Juliano,  bastando,  para  tanto,  que se  coloque  um  acento  circunflexo  (Ιουλίαν)  (veja a nota em REB).  Praticamente todos os intérpretes entendem que, neste caso, se trata de um nome de mulher.  É bem possível que Júlia fosse a mulher de Filólogo  (Fitzmyer, Romans, p.  742).”

Fonte: OMANSON, Roger L. Variantes Textuais do Novo Testamento. Trad. Vilson Scholz. 2010. P. 328. SBB.

Nenhum comentário:

Postar um comentário